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​Eu como Você

“Não abriremos mão da nossa natureza selvagem. A antropofagia é inerente a nós, mesmo quando ela se manifesta em suas formas mais sutis, onde o que nos servem de alimento são apenas as palavras e a presença passiva de outro corpo. Consumindo e experimentando o sabor daquilo que vem de outro ser, nos temperamos, percebemos o que nos falta, o que nos satura. Muitas das vezes esse consumo precisa ser conspícuo, e nos retemos, suprimimos a fome, que muitas das vezes é insaciável. A civilidade nos deixou quase inanes, nos apresentou outras formas de alimentos e seus sabores nos alienam do desejo endocanibal. Ao retomarmos nossas origens, nos cedermos, nos servirmos uns aos outros como alimento, solenemente, a fim de nos fortalecermos, resgataremos a nossa potência. Podemos nos nutrir com tudo o que outro ser pode nos oferecer e, uma vez conquistado-cedido, devemos consumir. Ora uma náusea angustiante nos afligirá, mas não desperdiçaremos uma só mínima parte desse corpo-alimento – a bile se encarregará de auxiliar na digestão –, ora consumiremos somente aquilo que nos convém, o intolerável cuspiremos de volta e, em meio à amargura, expostos estarão aqueles corpos-resíduos juntos aos meus – quero alimento e COMO. Ao nos nutrirmos uns dos outros nos unimos. Seres múltiplos, num corpo só, com múltiplos poderes. Como SER eu me nutro, assim COMO você.”


 

Eu como Você

“We will not give up on our wild nature. Anthropophagy is inherent to ourselves, even if it manifests itself in subtler forms, when we are fed only words and a passive presence of another body. In consuming and tasting what comes from another being, we flavour ourselves; we realize what is lacking and what abounds. This consumption must often be conspicuous, and we refrain, we supress our hunger, many times an insatiable one. Civility has made us almost empty, it has shown us other forms of food and its flavours have alienated us from our endocannibal desires. In resuming our origins, in surrendering, in delivering ourselves solemnly as each other's food to make ourselves stronger, we regain our power. We can nourish ourselves with whatever another being has to offer, and once it is delivered to us, we must consume it. Sometimes a distressing nausea will afflicts us, but we won't waste even a small fraction of this body/food – the bile will help us digest. Sometimes we will eat only that which suits us: what we find intolerable will be spit out, and in bitterness we will expose those body/residues next to ours – I want food and I REALLY want to eat it. By nourishing ourselves from each other, we unite. Multiple beings, in one body, with multiple powers. As a BEING I feed myself, just LIKE you”.

* ”Eu como você” has a double meaning in portuguese: it can mean either “I eat you” or “Me as you

 

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